Monday, March 11, 2013



Não quero falar das paixões que envolvem dois sexos.
Não quero limitar a vida a um pulso sanguíneo.
Não quero trazer o toque para o eterno.
Não quero resumir a vida às paixões bem sucedidas.

Estou aqui falando de fracassos.
Desses que vejo todo dia.

Os fracassos de anos atrás, os fracassos de ontem...
Nada me toca mais do que os fracassos.

A dor do fracasso é dilacerante, torna todo o resto sem sentido.
Fracassar é pros fortes e o amar é pros fracos?
Ou amar é pros fortes?

Me disseram que o negócio é perdoar.

O ponto é que quando não há amor, só os fracassos aparecem.

Eles aparecem como cenas de filmes inesquecíveis. Aparecem com atores da vida real, encenando apenas o que o roteiro imaginário pode reproduzir. Real ou não, as cenas aparecem. Oras menores, oras maiores, nunca da mesma proporção de que de fato aconteceram.

A intensidade do fracasso tem um dom engraçado... Ele sabe acompanhar exatamente a proporção do amor.

Quanto maior você lembra do amor, maior a sensação de fracasso.
Quanto melhor o abraço, maior a dor de ter fracassado.

É por isso que não falo mais de amor.

Meu otimismo me fez olhar pro lado menos sombrio... 
Porque mais sombrio do que o fracasso, é a dor de sentir falta daquele abraço.

Domingo

A saudade não aparece mais todo dia.

Aliás, já consigo respirar sem lembrar do seu nome.

O problema são os domingos.

Os domingos de sol, daqueles pra sair, ver o dia e andar de exposição em exposição.
Os domingos de chuva, pra cozinhar em casa, ver um filme, discutir arte moderna e semiótica, traçar os planos pro futuro e escolher o nome de nossos filhos.

Os domingos ainda são difíceis.

Confesso que já foram piores, mas nossa... Como já foram melhores.

As pequenas coisas do dia a dia trazem aquela lembrança dolorida que insiste em aparecer em cada roupa no varal. Cada sacola de supermercado. Cada lençol desarrumado.

E os planos? Como é duro não ter mais planos.
E como é difícil fazer planos sozinha.

Você sempre disse que me faltava foco. E de fato estava certa. Falta mesmo.
Apesar de ter meu eixo de volta, não tenho mais aconchego.
As coisas ficaram mais duras e frias. E amolecer e esquentar depende só de mim.

Dançar em frente a TV não tem mais significado. E nem graça.
Nem assistir TV tem mais o mesmo valor.
A vida aliás ganhou outro valor. E meu Deus, como é difícil mudar.

No mais, tudo vai bem.

A cada hora que passa, a falta morre um pouquinho. Mas basta eu fechar os olhos e me concentrar, que ela vem correndo.
Me mostrar que um dia, fui feliz com você.
E você comigo.

O meu vazio

O meu vazio é a falta de algo que não tem definição. É a falta do toque, da paixão, da arte. O meu vazio me torna expansiva a ponto de tentar preencher o vazio do outro. Algo como uma compensação de vazios, que fará com que o universo preencha o que um dia tentei preencher. O vazio não traz saudade, não traz tristeza, não traz dor. O vazio é só um espaço que não pulsa. Um espaço em que tudo para. Um espaço de poucas alegrias. A imensidão do vazio pode transformar pequenas cenas imaginárias em grandes obras de arte. Pode tornar a vida mais leve e mais sem graça. O vazio peca por sua parcialidade. Ele não completa, logo, não satisfaz. Me faz lembrar da eterna falta do ser, da eterna sensação de insignificância que a vida nos traz diariamente. Esse é o papel do vazio. Escancarar toda falta que o mundo traz. Mostrar o quanto a vida é besta. O quanto somos todos otários atrás de matéria, de algo que pulse, de algo que acolha. Meu vazio é bucólico. Meu vazio é tão vazio, que acho que nunca mais será cheio. Meu vazio é solitário. É escuro. Me faz lembrar da morte. Me faz esquecer que a vida pulsa.